terça-feira, 16 de novembro de 2010

Calmaria

Acho que o inverno vale tanto para os animais quanto para os humanos, mas isso depende de alguns fatores; os animais sentem o frio e se escondem em seus ninhos e cavernas. Quando nós sentimos frio, ficamos dentro de nossa casa ou, no caso do "meu" frio que sinto, acabo por ficar longe de tudo e todos, ou pelo menos tento.
Há muito tempo meus posts aqui têm sido sobre natureza humana, instinto, relações e, claro, pensamentos desse lobo aqui. Acho que a solidão que sinto é uma das piores que venho sentindo a muito tempo... É daquelas que, mesmo rodeado de pessoas, me sinto ainda sozinho. Talvez a falta de alguém no pensamento, talvez alguém para com quem abrir a memória sem precisar de palavras seja o motivo de sentir-me de tal maneira. É como se ainda me sentisse sozinho por pensar sozinho, talvez a falta de expressão me faça sentir assim e sei que seria corrigido caso dissesse isso na frente daqueles que prezam pela minha pessoa. Sei que seria egoísmo meu de dizer tal, de expressar esse post cara a cara mas não há negação de minha parte de que ainda me sinto ou talvez queira me sentir ímpar.
Conheço muito bem o discurso de que ninguém nunca está sozinho e de ter alguém para qual confiar, mas... depois de algumas horas pensando e relembrando de quem fui até quando pequeno, relevo meus pensamentos e vejo que sempre fui do tipo solitário, seja amorosamente ou em outros casos como tarefas, que sempre procuro fazer sozinho, sem pedir ajuda. Sei que a tarefa pode ser mais longa e mais dolorosa, dependendo do tempo e jeito que for feita, mas isso nunca me recuou apesar de sempre ter o medo.
Hoje, sinto que essa pequena calmaria ainda vai virar uma chuva fina e rasa, que deixa a neblina na manhã seguinte, junto com o frio. Junto do silêncio. Eu pensei que poderia lutar isso de peito aberto, essa solidão, a cicatriz que me foi deixada depois de tanto tempo sem defesa, sem se preocupar com ela. Mas de que adianta viver a vida senão saber que sentimos dor? Afinal, como eu sempre digo, se sente dor é porque ainda estás vivo. A solidão difere da dor, mas os dois andam de mãos dadas, ainda que seja a solidão que queira ficar sozinha... Teimosa, ainda assim, atrai estes outros sentimentos.

Me perdi bastante no meio do post, não posso negar. Eu não sou uma pessoa que consegue se expressar muito bem com as palavras. Nunca fui bom com as palavras, apesar de escrevê-las (ou digitá-las) de forma correta. Não sou bom com as palavras. Eu sempre tive esse problema com a expressão, sabe. Lembro-me até hoje quando estava na quinta série... Acho que sou paciente demais, até comigo mesmo. Era inocente e não sabia lidar com aquela coisa quente e acho que até hoje não sei. Lembro-me das palavras dela, e exatamente no meu tom de voz; aquele sorriso bobo que dizia "Tudo bem". Não, não estava tudo bem. Aquele calor foi-se no exato instante e nada no meu estômago parecia encher. Mas isso não interessa, não é? Afinal, não venho para falar do passado ou sobre "o que eu passei foi ruim, mostra o seu pra ver se é pior". Não quero comparar dores, não quero ver mais dela. Todos somos iguais quando sentimos dor e todos somos capazes de chorar pelo que perdemos.

Bem, eu acho que por enquanto é só. Não ando conseguindo me organizar direito e ando deixando pensamentos descobertos, sem completar, talvez por medo de cair de novo. Até outro post. ~

sábado, 11 de setembro de 2010

Quando o inverno volta.

O lobo sabia que aquele dia viria. Sabia que um dia, ao olhar para o céu, outra estrela inalcançável se faria presente naquele manto negro que era a noite. Um uivo para a lua sorridente; sarcástica, como um gato, observando o lobo solitário. O vento anunciava a chegada do inverno gélido e o primeiro floco de neve atingia o solo, longe dali.

Apenas mais um desabafo, pensamento ou o que quer que pensem. Não, não quero que pensem que não ligo para o que pensem, afinal, me importo com quem lê. Me importo comigo mesmo, não é? Ou pelo menos deveria me importar mais. O que é um sentimento? Uma junção de reações ao seu redor somatizadas no subconsciente resultando no consciente? Sentimentos podem ser como feridas assim como podem ser marcas, carícias ou até mesmo prazeres. Mas, somos fúteis e nos lidamos mais com o sentimento que fere, pois este cicatrize. Uma vez me contaram que uma pessoa é feita de cicatrizes, marcas que ficam depois das feridas. Desde muito tempo, cicatrizes são vistas como provas; provas de que a pessoa passou no tal "teste" e que a tem até hoje para se vangloriar da dor que passou. Mas, de onde vem o mérito da dor? De ter ultrapassado ela com ou sem sofrimento? Será que é possível nós nos localizarmos em nosso consciente e desligar a chave do sofrimento?

Como podem notar, há muitas perguntas na cabeça, onde muitas delas acho que prefiro que não sejam respondidas. Assim como o lobo, por ora, prefiro ficar sozinho e aproveitar o vento frio. Aproveitar... não sei se sou capaz mais de poder fazer isso. Sei que é besteira falar disso agora, mas algumas vezes é bom colocar pra fora o que vem na mente. Mas o que vem na minha mente agora eu não posso dizer. Poderia.

O lobo olha para trás e vê por onde passou. Declives, penhascos, pontes, riachos, clareiras... Tudo aquilo tinha um sentido, para ele. Chegar em algum lugar com o sol, segui-lo para aonde ele se escondia atrás das montanhas, poder viver sempre confortável e aquecido debaixo daquela grande estrela.

Quando perdemos algo, sempre nos damos conta de quanto aquilo era feito de ouro ou qualquer que seja seu material mais precioso. Procuramos por todo o canto: "Aonde errei?" e, então, te dizem "Você não errou.". O homem é cheio de dúvidas e, sem elas, não seriamos tão interessados uns aos outros como nos sabemos que somos. Nós não olhamos para trás quando conquistamos algo, a não ser que pensemos nisso. Porém, quando perdemos, temos o instinto de observar por cima do ombro e ver aonde o passo foi em falso. Seria perda de tempo o lamento? Seria falta de aproveitamento ter que sofrer por aquilo que perdemos e que vamos perder a frente na neblina escura que é o amanhã?

E o lobo sentou, esperando a neve. O sol iria voltar, sim, no outro dia, entretanto, o inverno não deixaria o lobo se aquecer debaixo do mesmo. As nuvens ocultavam o seu querido acalento e, nem mesmo um fogo, poderia ajudá-lo. Queria o sol. E uivou por ele.

"Não brinque com fogo", muitos dizem. O fogo queima mas nos aquece. Como vamos saber quando ele queima? Quando nos aproximamos demais do mesmo e aí descobrimos que, assim como o fogo, o lobo também pode machucar. É errado chorar pelo que perdemos? Devemos lamentar pelo que perdemos e, ao mesmo tempo, relembrar do que foi bom? O aproveitamento é uma ferramenta estranha, pelo menos para mim. Mais uma cicatriz se faz na alma, entretanto, é como uma auto mutilação entregar-se a algo que sabe que pode te machucar ou queimar, como o fogo. Senão masoquismo, o que seria? É esse o tal amor? Uma escada escorregadia que nos leva a outras escadas e assim por diante. Não é pessimismo, é apenas um retrato do pensamento atual da dor, uma fotografia da mente transcrita em linhas sem sentido.

O sol não ia voltar mais. O lobo deitou-se, na neve, esperando que, um dia, o sol volte a aquecê-lo como aquecia antes. Por ora, ele esperava... Enquanto o frio rigoroso impiedosamente soprava sobre o solitário.