sábado, 11 de setembro de 2010

Quando o inverno volta.

O lobo sabia que aquele dia viria. Sabia que um dia, ao olhar para o céu, outra estrela inalcançável se faria presente naquele manto negro que era a noite. Um uivo para a lua sorridente; sarcástica, como um gato, observando o lobo solitário. O vento anunciava a chegada do inverno gélido e o primeiro floco de neve atingia o solo, longe dali.

Apenas mais um desabafo, pensamento ou o que quer que pensem. Não, não quero que pensem que não ligo para o que pensem, afinal, me importo com quem lê. Me importo comigo mesmo, não é? Ou pelo menos deveria me importar mais. O que é um sentimento? Uma junção de reações ao seu redor somatizadas no subconsciente resultando no consciente? Sentimentos podem ser como feridas assim como podem ser marcas, carícias ou até mesmo prazeres. Mas, somos fúteis e nos lidamos mais com o sentimento que fere, pois este cicatrize. Uma vez me contaram que uma pessoa é feita de cicatrizes, marcas que ficam depois das feridas. Desde muito tempo, cicatrizes são vistas como provas; provas de que a pessoa passou no tal "teste" e que a tem até hoje para se vangloriar da dor que passou. Mas, de onde vem o mérito da dor? De ter ultrapassado ela com ou sem sofrimento? Será que é possível nós nos localizarmos em nosso consciente e desligar a chave do sofrimento?

Como podem notar, há muitas perguntas na cabeça, onde muitas delas acho que prefiro que não sejam respondidas. Assim como o lobo, por ora, prefiro ficar sozinho e aproveitar o vento frio. Aproveitar... não sei se sou capaz mais de poder fazer isso. Sei que é besteira falar disso agora, mas algumas vezes é bom colocar pra fora o que vem na mente. Mas o que vem na minha mente agora eu não posso dizer. Poderia.

O lobo olha para trás e vê por onde passou. Declives, penhascos, pontes, riachos, clareiras... Tudo aquilo tinha um sentido, para ele. Chegar em algum lugar com o sol, segui-lo para aonde ele se escondia atrás das montanhas, poder viver sempre confortável e aquecido debaixo daquela grande estrela.

Quando perdemos algo, sempre nos damos conta de quanto aquilo era feito de ouro ou qualquer que seja seu material mais precioso. Procuramos por todo o canto: "Aonde errei?" e, então, te dizem "Você não errou.". O homem é cheio de dúvidas e, sem elas, não seriamos tão interessados uns aos outros como nos sabemos que somos. Nós não olhamos para trás quando conquistamos algo, a não ser que pensemos nisso. Porém, quando perdemos, temos o instinto de observar por cima do ombro e ver aonde o passo foi em falso. Seria perda de tempo o lamento? Seria falta de aproveitamento ter que sofrer por aquilo que perdemos e que vamos perder a frente na neblina escura que é o amanhã?

E o lobo sentou, esperando a neve. O sol iria voltar, sim, no outro dia, entretanto, o inverno não deixaria o lobo se aquecer debaixo do mesmo. As nuvens ocultavam o seu querido acalento e, nem mesmo um fogo, poderia ajudá-lo. Queria o sol. E uivou por ele.

"Não brinque com fogo", muitos dizem. O fogo queima mas nos aquece. Como vamos saber quando ele queima? Quando nos aproximamos demais do mesmo e aí descobrimos que, assim como o fogo, o lobo também pode machucar. É errado chorar pelo que perdemos? Devemos lamentar pelo que perdemos e, ao mesmo tempo, relembrar do que foi bom? O aproveitamento é uma ferramenta estranha, pelo menos para mim. Mais uma cicatriz se faz na alma, entretanto, é como uma auto mutilação entregar-se a algo que sabe que pode te machucar ou queimar, como o fogo. Senão masoquismo, o que seria? É esse o tal amor? Uma escada escorregadia que nos leva a outras escadas e assim por diante. Não é pessimismo, é apenas um retrato do pensamento atual da dor, uma fotografia da mente transcrita em linhas sem sentido.

O sol não ia voltar mais. O lobo deitou-se, na neve, esperando que, um dia, o sol volte a aquecê-lo como aquecia antes. Por ora, ele esperava... Enquanto o frio rigoroso impiedosamente soprava sobre o solitário.


Um comentário:

  1. http://santamaionese.tumblr.com

    Eu postei seu texto guto. E deixei o link do blog
    <3

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